O Pai,
ganhara uma dúzia de bolinhas pretas três centímetros de diametro cada.
Levara ao filho sem saber a mágica que estava prestes a fazer em sua vida.
Bolinhas da mesma cor.
No dia da chegada foram duas em seus bolsos.
- Mãe, posso descer?
Ganhara a permissão necessária.
Inventara mentalmente já ao fechar a porta de casa o primeiro desafio.
Bolinhas correm...
Foram então três andares abaixo.
Correra o garoto.
Meninos fazem degraus virarem rampa.
No segundo andar sentira o cheiro de pão sendo assado, ouvira o choro do bebê.
Pensara naquele momento: quisera eu já ser homem.
Homem grande: para fazer seus pães e bebês.
No primeiro andar fizera com que seus pés não tocassem o chão.
Aquela estranha senhora tinha ao menos setenta anos de diferença do garoto.
Isso fizera com que ele sempre a visse com olhos de medo.
No jardim é que a aventura começara.
Jogara de todas as formas a bolinha.
Contra o muro resistira por dez minutos apenas, ela sempre retornara.
Para cima, pudera ver a bolinha descer descoordenada sem saber a direção para onde ela pularia.
Sim, elas pulavam...
E tocando o chão, pulavam outra vez.
Elas eram doze.
Soubera perder uma por uma.
Naquele mesmo dia viu uma delas cair no meio do ralo. Fizera cara de interrogação.
Olhara para o lado (adultos tão úteis de vez em quando não estavam por ali).
Perdera a primeira e pouco a pouco:
uma foi parar na rua, terreno que lhe era proibido.
duas misteriosamente penetraram o jardim (poderia existir uma árvore de bolinhas - maquinara o menino)
Esquecera ainda neste tempo, umas três sabe lá por onde deixou, ao ou a mãe chamá-lo: - Sobe!
Começara então um período de forças na vida do garoto.
Na frente do mar perdera mais duas.
Decidira então não usar mais nenhuma delas.
[ Quem diante de chances, as coloca em redomas e não as utiliza? ]
Jogara pensando na sorte com toda força a primeira.
Perdera-se nas alturas. Crescera então questionando se acaso teria sido o vento...
Jogara com força, e sabendo que estava próximo ao término, a segunda.
Perdera-se nas alturas mas desta vez o seu olhar acompanhara e pudera ver a bolinha instalar-se no telhado do prédio de 3 andares.
Orgulhara-se. Que força! Olhara para os lados, ninguém pode ver... Seria um trunfo não registrado por ninguém, um trunfo somente seu.
Por dias incontáveis segurara a última bolinha entre os dedos em uma mão crescente.
Mas chegara o dia de arriscar.
Jogara com força e com o coração pulsando, como se fosse a despedida de sua infância.
Jogara e imediatamente a bolinha virou chuva, ráios, trovões, uma saudade por detrás das cortinas brancas de sua mãe, ou na cadeira de balanço de seu pai.
...
Da demolição
...
1986, mudara-se e nunca deixara de perseguir seu tesouro.
Durante a demolição recuperara exatamente três bolinhas.
Acreditara que eram as três últimas.
...
Alturas tantas vezes são chamadas de chão!
1 commento:
Pai, parabéns e obrigado. Estou tão distante, quero me aproximar estes dias e daqui pra frente, até o fim.
Tantas coisas aprendi. E nunca vou me esquecer das bolinhas, e tantas outras coisas.
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