Réquiem in Pace. (Descanse em paz).
Gargalharia, antes do término de minha vida, um pouquinho antes da partida, revendo o todo, emaranhado de coisas vividas. Morreria sorrindo. Deixando um bilhete ao doutor legista, para que o sorriso, descrito fosse no todo, e à certidão de óbito, fosse anexada uma foto, do pálido sorriso.Previnido, deixaria tudo preparado. O tecido mortuário, substituiria as flores, que não quero por cima de mim, e no linho branco, já amarelado pelo tempo, estaria escrito um poema sem fim. Dois metros e cinqüenta de linho, com linhas escritas por mim, em nanquim, relembrando locais, pessoas, atos, feitos, desfeitos. Um poema que se chamaria minha vida. Longo, longo poema. Deixaria nele revelações, quem não tem algumas, em letra pequena, só para que o caixão estivesse sempre rodeado. Caixão branco, por mim encomendado, forrado de metal, para que eu me consuma por mim mesmo, sem os vermes de outros seres antes enterrados. Criamos nossos próprios bichos. Eles já estão aqui comigo em potência.Se houver uma mulher amada, que eu vá antes, mas que ela não chore. Mas recorde, os momentos de alegria, minhas palhaçadas, tombos e quedas, batidas de cabeça, sorriso amarelo, piadas fora de hora. Que ela se lembre do prazer, e das loucuras na cama, na cozinha, no chuveiro, no..., na...E sua dor se transforme em prazer e carinho, tão devagarinho, que ninguém entenderia o seu riso caladinho, no canto do salão.Se tiver filhos, lembrem-se do super herói, das vezes que quando pequenos, trotraram no cavalo de mentira, que sofria de dor nas costas após. Lembrem-se do peso da minha mão, segurando as suas, e também dos olhares de reprovação, e do tapa, que nunca levaram.Lembrem-se das aulas de filosofia, dos meus textos, de novo da minha mão direita, pegando nas suas, e os ensinando a escrever. Recordem o nome de cada livro que ganharam na vida, cada um que pude ler. Tenham em vista o amor, que viram no seu lar, e de todas as falas, dizendo para que eles disso não venham a sofrer.Os meninos lembrem-se dos papos de homem, das aulas que na teoria os ensinei a dar prazer. As meninas, do cheiro, das roupas, do carinho, para um homem como eu ter.Enfim, carreguem-me. Não se esqueçam que paguei tudo. Ainda deixei bom troco, naquelas contas conjuntas, e também em baixo do colchão.Os netos só se lembrem do avô brincalhão, e nunca da deseducação, por mim gerada. Eu queria mesmo era curtir e ver a cara, dos meus filhos a repetir, tantos nãos.Se não tiver ninguém, nem filhos, nem esposa, nem netos, nem sobrinhos, nem irmãos, pago a um grupo de oração, contribuo com uma instituição qualquer, chamo a banda da polícia militar, pago um coro para cantar as canções de amor, e algumas mulheres para de preto chorar.Carreguem-me, e não se esqueçam (seja lá quem for) da lápide de mármore branco, que foi talhada por mim mesmo, e que diz: Aqui repousam, os restos de um ser, que amou, que ama e que passará seu céu, amando.O meu melhor sorriso, enfim.
Fina Folha
Esconda-te, desfaz teu sorriso, e enfrenta, o vento que a vida manda,com a folha já morta, e seca, diferente da tua vida viva, e molhada,sépia, opaca, alegria acabando,colorido pouco, só o teu olhar, e lábios avermelhados, de uma cor não natural,gerada, quantas passadas, daquele batom que para mim não tem gosto nenhum,eu, que não devia estar neste texto, já que não sou o motivo do teu sorriso desfeito,assopro mais ainda, para ver se a fragilidade da folha,te deixa nua, outra vez.
Ausências...
Falta o apetite, Falta a memória,Falta o sorriso,Falta a vitória,Falta o carinho,Falta a mão,Falta o coração,Falta a alegria,Falta o tesão,Falta a coragem,Falta o amor,Falta a ilusão,Falta o olhar,Falta a visão,Falta o voar,Falta a dança,Falta o cabelo,Falta a voz,Falta...Falta...Falta...Falta...E resta somente algo que não se chama de nome algum que meu vocabulário possa alcançar...
Estações
No outono te amaria, deixando cair de mim todas as neuras, e problemas, para que nos momentos em que em meus braços estivesses, fosse somente sonho. Aquecería-te nas brisas outonais todinhas, porque meus braços, já não rente ao corpo te envolveriam. Quem nos visse invejaria a alegria, de poder ser bem assim, amor.No inverno, bem grudados, com o corpo lado a lado, e um brilho no olhar tão diferente, que o povo diria: Gente! Eles se amam de verdade. Sequer precisaríamos de lareira, elas seriam enfeites pequenos, perto do calor de nossos corpos e dos rostos avermelhados. Seriamos cachecol um do outro, só para poder ser bem assim, amor.Na primavera, as flores nos enfeitariam, elas diriam da beleza do nosso amor para o mundo, e se não ouvissem, receberiam, girassóis, camélias, rosas, margaridas; todo dia, dia a dia, só para ser bem assim, amor.No verão, a praia teria outra cara, pés descalços dentro d'água, caminhada. Mão dadas, roupas poucas, e as marcas para sempre renovadas, apagando o último verão, terrível, que tivemos separados, pés descalços dentro d'água, tão distantes, mas unidos pelo mar. Seria o teu refresco, o teu sopro no pescoço, tua grande piscina, só para combinar com as cores deste teu corpo e ser bem assim, amor.
22.4.06
Sangrando.
Era necessário que o colibri doasse o seu coração à bela rosa que de branca, ficou vermelha pelo sangue que deixou o colibri, ao espetar seu coração no espinho, e cantar bem alto, afim de demonstrar o seu amor. Amou mas morreu, já que vivendo morria de amor.baseado em um conto de Oscar Wilde
...
"O meu único orgasmo é escrever".Se alguém tiver algo melhor para oferecer...
Trocaria...
Trocaria meus 28, pelos 14 dele, só porque me vi... Ou revi o meu rosto de um passado não tão distante.Voz infantil e música. Força que vinha da alma. E a vergonha típica da idade.Pele branca. Rosto recheado. Cabelos compridos. Coragem rompendo barreiras. Olhar brilhante. Ausência de problemas. Virgindade. Pouca história para contar. Tantas incompreensões. Família no comando. Nenhum amor. Coração descompromissado.Trocaria meus 28, pelos 14 dele, só porque me vi e porque apaixonei-me pela idéia de ser moleque outra vez.
Olhando os lápis de cor entendo,porque em toda rodinha procuro a perfeita,uma harmônia de vestes,a brancura na pele,os cabelos dourados,o perfume suave,sobrancelhas perfeitas,altura correta.Olhando os lápis de cor entendo,que só o azul é perfeito,e tão amado por mim.
Parágrafo só
Amando você mais que eu vou vivendo um não sei o que e tento a cada segundo enganar meu coração dizendo que deixei de te amar e olho para os lados tentando ver alguém procuro ouvir outras canções pego o microfone e por nove horas fico por lá salvando cantores sem dom e vendo as mesas se desocuparem e novamente se encherem de gente diferente sinal de que posso cantar de novo a música cinco vezes cantada ontem só para por a energia do beijo e do toque que não te dei e todo o amor que tenho aqui embora queira dizer que acabou mas os textos vão me traindo como se existisse um parágrafo só o melhor escrito por você minha vida esse aqui essa história que parece não ter fim
Um grão, só mais um grão...
Era o primeiro contato adulto das duas mãos que na infância, tantas vezes estiveram juntas brincando de namoradinhos...Na praia. Na areia. Eram mais um grão.A dele, acolhendo ela. E não seria necessário sequer um centímetro de corpo a mais, para dizer o lindo sorriso que se formava nos rostos, e a lágrima que caia do olho direito,dele.Sabiam os corações que era um sinal de compromisso que estava nascendo. E que eram o único grão seguro de areia,se podia construir um castelo em cima daquele pequeno grão, mas talvez o tempo, no tempo da união que estava nascendo no toque, e que duraria a vida inteira, nunca mais permitiria que se repetisse o instante.Casais vão virando um grão a mais, sem querer... A força das mãos que antes dizia te seguro para sempre, vão virando liberdade, como se no fundo a voz suave se ouvisse: quero que você cresça, e que meu amor te faça crescer, te inspire, por isso dou-te a liberdade, e não te amarro pelas mãos. Alguns grãos voam, exatamente ao ouvir a voz... A força se perde...Eles eram um grão pequeno, um grão amor, um toque definitivo, um encontro depois de tanta procura e espera.Ficariam sendo grão na vida, até que a vida que é mar os resgatasse.E no mar da vida e que a vida é, o movimento seria incessante.Um leva e trás, uma onda, uma brisa, uma corrente marítima.Mas de vez em quando para que a vida tivesse sabor, uma onda os jogaria na areia, para serem grão de novo, ainda que com menos intensidade, para gozar a alegria - poucas - que muitos chamam de Amor.E recomeçariam tudo, sempre começando pelo toque das mãos.
Desescritos
Escrevia e relia,e relendo não gostava,amassava, rasgava,picotava, mastigava,triturava,mas nunca seriam desescritos,os verbetes saídos,das mãos de quem,amou.
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