domenica, agosto 15, 2010

Réquiem in pace (Descanse em Paz) 2006

Gargalharia, antes do término de minha vida, um pouquinho antes da partida, revendo o todo, emaranhado de coisas vividas. Morreria sorrindo. Deixando um bilhete ao doutor legista, para que o sorriso, descrito fosse no todo, e à certidão de óbito, fosse anexada uma foto, do pálido sorriso.
Previnido, deixaria tudo preparado. O tecido mortuário, substituiria as flores, que não quero por cima de mim, e no linho branco, já amarelado pelo tempo, estaria escrito um poema sem fim. Dois metros e cinqüenta de linho, com linhas escritas por mim, em nanquim, relembrando locais, pessoas, atos, feitos, desfeitos. Um poema que se chamaria minha vida. Longo, longo poema. Deixaria nele revelações, quem não tem algumas, em letra pequena, só para que o caixão estivesse sempre rodeado. Caixão branco, por mim encomendado, forrado de metal, para que eu me consuma por mim mesmo, sem os vermes de outros seres antes enterrados. Criamos nossos próprios bichos. Eles já estão aqui comigo em potência.Se houver uma mulher amada, que eu vá antes, mas que ela não chore. Mas recorde, os momentos de alegria, minhas palhaçadas, tombos e quedas, batidas de cabeça, sorriso amarelo, piadas fora de hora. Que ela se lembre do prazer, e das loucuras na cama, na cozinha, no chuveiro, no..., na...
E sua dor se transforme em prazer e carinho, tão devagarinho, que ninguém entenderia o seu riso caladinho, no canto do salão.
Se tiver filhos, lembrem-se do super herói, das vezes que quando pequenos, trotraram no cavalo de mentira, que sofria de dor nas costas após. Lembrem-se do peso da minha mão, segurando as suas, e também dos olhares de reprovação, e do tapa, que nunca levaram.
Lembrem-se das aulas de filosofia, dos meus textos, de novo da minha mão direita, pegando nas suas, e os ensinando a escrever. Recordem o nome de cada livro que ganharam na vida, cada um que pude ler. Tenham em vista o amor, que viram no seu lar, e de todas as falas, dizendo para que eles disso não venham a sofrer.
Os meninos lembrem-se dos papos de homem, das aulas que na teoria os ensinei a dar prazer. As meninas, do cheiro, das roupas, do carinho, para um homem como eu ter.
Enfim, carreguem-me. Não se esqueçam que paguei tudo. Ainda deixei bom troco, naquelas contas conjuntas, e também em baixo do colchão.Os netos só se lembrem do avô brincalhão, e nunca da deseducação, por mim gerada.
Eu queria mesmo era curtir e ver a cara, dos meus filhos a repetir, tantos nãos.Se não tiver ninguém, nem filhos, nem esposa, nem netos, nem sobrinhos, nem irmãos, pago a um grupo de oração, contribuo com uma instituição qualquer, chamo a banda da polícia militar, pago um coro para cantar as canções de amor, e algumas mulheres para de preto chorar.
Carreguem-me, e não se esqueçam (seja lá quem for) da lápide de mármore branco, que foi talhada por mim mesmo, e que diz: Aqui repousam, os restos de um ser, que amou, que ama e que passará seu céu, amando.

O meu melhor sorriso, enfim.

Nessun commento: